Os mais de 365 dias de espera acabaram por cansar Gislene Maria Ribeiro, 50. Após ganhar R$ 138 mensais pelo programa Bolsa Família por anos, a dona de casa parou, de uma hora para a outra, de receber o benefício.
Gislene é o retrato do desmonte do programa de transferência de renda. Em Minas, 118,6 mil famílias perderam a ajuda entre julho de 2016 e julho deste ano (10,8%). Na capital, no mesmo período, foram excluídos 9,1 mil beneficiários. Considerando-se somente de junho a julho deste ano, são quase 5 mil famílias a menos no programa só em Belo Horizonte.
“Falaram que eu tinha sido empregada e que estava recebendo dois salários por mês”, conta a moradora do bairro Independência, no Barreiro, que vive com três filhos, uma nora e um neto numa habitação de dois cômodos nos fundos da casa da mãe – e nunca teve a carteira de trabalho assinada.
Depois de mais de um ano com ligações quase diárias para a central de relacionamento do programa instituído em 2003, destinado a famílias com renda per capita abaixo de R$ 170, Gislene se resignou.
“No começo, diziam que minha solicitação estava sendo investigada pela ouvidoria. Nos últimos meses, colocavam na espera e nunca atendiam”, conta a ex-beneficiária, cuja família vive da renda da aposentadoria de um salário (R$ 937), repartido por sete pessoas – entre elas três adolescentes, uma grávida e um bebê.
Ladeira abaixo
Desde que a crise econômica se instalou no Brasil, o Bolsa Família vem sofrendo cortes sensíveis no número de beneficiários e nos repasses pelo governo federal.
Em um país com 13,5 milhões de desempregados, a expectativa seria o movimento inverso, com mais pessoas sendo integradas ao Bolsa Família.
O valor do benefício médio do Bolsa Família, na capital, chegou a R$ 145,62 por família em julho de 2017. Há dois anos, esse valor era de R$ 147,86. Em Minas, a renda média dos beneficiários correspondia, no mês passado, a R$ 168,46 por família
Segundo dados disponíveis no sistema do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), só em Belo Horizonte foram cortadas 16.271 famílias do programa entre julho de 2015 e julho de 2017 – quase uma a cada quatro. Em Minas, a tendência também é de baixa, com 142.845 famílias excluídas no mesmo período (12,7%).
Entre julho de 2015 e julh0 de 2017, os repasses federais para Belo Horizonte foram enxugados em 23,8%, com R$ 2,4 milhões a menos repassados para o programa. Para Minas, a queda foi de 5%, com corte de R$ 8,7 milhões. (Fábio Corrêa)
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